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Rock angolano com Vum Vum
Jomo Fortunato|
6 de Maio, 2013
6 de Maio, 2013
Embora seja um ilustre desconhecido, sobretudo pela geração mais jovem de cantores e compositores angolanos, Vum Vum é um nome fundamental na história da Música Popular Angolana, e foi o primeiro cantor negro, em situação de colonizado, a permanecer seis meses em cartaz, na famosa e prestigiada Boite Tamar, na Ilha de Luanda, em 1966. O seu enorme sucesso surpreendeu a imprensa da época, e o seu rosto foi chamada de capa na revista “Notícia”, de João Charulla de Azevedo, facto considerado insólito naquela época.
A grandiosidade da sua voz, um dos seus principais instrumentos, sempre esteve ao serviço de uma arte que marcou de forma indelével a história dos Conjuntos de Música Moderna, e, consequentemente, os primórdios da renovação estética da Música Popular angolana.
Vum Vum gravou, em 1969, o clássico EP “Muzangola”, disco que permanece actual pela insuperável prestação técnica dos músicos, que inclui, além do tema “Muzangola” que dá título ao disco, as canções: “Ché, Ché kangrima”, “Monami”, “Porque viver sem você”, acompanhadas por uma selecção de prodigiosos músicos: Fernando Pinto (guitarra ritmo e solo), Luís Duarte (baixo), Jaime (órgão), e Tó Bandeira (bateria). Volvidos 44 anos, o EP “Muzangola” permanece actual, constituindo um marco assinalável na história do rock, da música popular e uma referência paradigmática da discografia angolana.
Primórdios
Filho de Manuel Baptista das Neves e de Juliana Fernandes, Manuel Rosário das Neves nasceu no dia 31 de Dezembro de 1943, no Dondo, Kwanza-Norte. Cantor, compositor, poeta e guitarrista, Vum Vum despertou para a música aos oito anos de idade, quando arrebatou um prémio no programa infantil “Cazumbi”, realizado pelo promotor cultural Luís Montez, no pátio do Sindicato dos Ferroviários. Em 1953, visita a província do Huambo, onde inicia uma peregrinação por várias sessões de programas infantis no Cinema Ruacaná, cidade onde estudou, em 1957, matriculado na Escola Industrial Sarmento Rodrigues.
De regresso a Luanda, em 1958, é simultaneamente artista dos programas de domingo, nos palcos do Clube Recreativo Botafogo, e Pim-Pam-Pum de Manuel Nunes, realizado na Liga Nacional Africana. Em parceria com Morgado Amaral e Cirineu Bastos, Vum Vum forma o trio de bailarinos de sapateado, na famosa Escola do Semba.
Artista filiado na Associação dos Naturais de Angola, ANANGOLA, Vum Vum tornou-se, em 1961, um dos principais intérpretes do grupo de cantares e danças “Njinga ya xikelela“, pertencente a esta associação. Em meados dos anos 70, era figura de cartaz nos palcos do Ngola Cine, apresentando-se no programa semanal “Dia do Trabalhador”, altura em que se junta aos “Electrónicos”, como principal vocalista, com Liló Saraiva (guitarra ritmo), Manuel Gomes (baixo), e Zan Andrade (guitarra solo).
Europa
Em 1968 parte para Lisboa, a convite do famoso empresário português Vasco Morgado, sendo a principal atracção nos teatros Monumental e Sá da Bandeira, no Porto, durante a temporada da revista, “Lisboa é sempre mulher”. Nesta época, divide o palco com Camilo de Oliveira, Nicolau Breyner, Florbela Queiroz e Octávio Matos. Em 1973, a convite do empresário Espanhol José Perez Lorenzo, compôs a banda sonora e deu voz ao filme “Eusébio, o Pantera Negra”. Em1977 e 1978 vive em Madrid e, durante três meses, é a atracção principal da “Balbosa Jazz”, a Catedral do Jazz Madrilleno.
Vum Vum chega à Alemanha no dia 1 de Agosto de 1988, e regressa novamente a Portugal no dia 29 de Agosto de 2012. Durante 24 anos fez várias apresentações destacando-se Viena de Áustria, Salzburgo e Estugarda, onde realiza um concerto por ocasião das comemorações da independência de Angola, no dia 11 de Novembro de 1988. Em Fevereiro de 1995 grava, pela Tropical Music, o CD “Muzangola”, disco que permaneceu durante três meses entre os dez do Top World Music da Alemanha.
Literatura
Vum Vum sempre aproximou a sua música da literatura e lançou, no dia 17 de Março de 2011, em Luanda, a sua primeira novela, “Simplesmente Joana”, figura do Marçal, bairro emblemático de Luanda. Na sequência, tem em preparação o seu novo livro, “Kota Luanda” e a realização do projecto musical “Salalé! Luanda misoso”, uma opereta sobre a memória colectiva angolana, na qual pretende retratar a cidade de Luanda a partir dos anos 50. Vum Vum Kamusasadi canta poemas dos poetas Rui Burity da Silva, Mário Costa Cê, José Manuel Fanha, Juliana Kiluanji e Mário António de Oliveira. Em 1976, gravou o LP “Salalé”, que inclui a canção “Menino Mirrado”, sobre um poema de Rui Burity da Silva, e percussão de Filipe Zau.
Homenagem
Regressa a Angola 43 anos depois de ter partido para Portugal, em Março de 1968, e é homenageado pelo cantor e compositor Sabú Guimarães e amigos, em acto realizado no Restaurante Buraco, situado na Floresta do Kinaxixi. Na ocasião, um trio composto por Carlitos Vieira Dias (viola), Rui César (Piano) e Hélio Braz (Percussão), acompanhou, além de Vum Vum, as vozes de Elias Dia Kimuezo, Cirineu Bastos, Dionísio Rocha, e Mário Gama.
Novo disco
Em relação ao novo CD “Ode aos meus Amores”, “Vum Vum fez o seguinte depoimento: “’Ode aos meus Amores’ são peças diversas... umas mais antigas que outras, mas sempre actuais. Há uma afinidade: são títulos inéditos que jamais foram cantados. É um projecto pensado e concebido para uma gravação de som acústico, desprovido de qualquer roupagem sofisticada, musicalmente falando, capaz de roubar a essência da simplicidade, natureza e objectivo do seu canto, música e poesia. Em resumo, dei às palavras o lugar de prima-dona, porque sou, acima de tudo, um cantor compositor, cantor de palavras. Emergência de aflições, anseios e verdades do quotidiano da minha observação para com a vida, da realidade do seu acontecer, em que sonho, que ainda é o leitmotiv, que acomoda o amanhecer do meu quotidiano. ‘Ode aos meus amores’ é um canto intimista, também de inconformismo, perante realidades ditas virtuais, onde o amor, música e poesia, abrem mão à esperança. Tudo isso, com apenas um único cúmplice: a Marikota, nome de adopção do meu violão, companheira inseparável das minhas confidências, sempre ao meu alcance, para veicular a musicalidade e sons, que dão força e vida às minhas palavras...”
A grandiosidade da sua voz, um dos seus principais instrumentos, sempre esteve ao serviço de uma arte que marcou de forma indelével a história dos Conjuntos de Música Moderna, e, consequentemente, os primórdios da renovação estética da Música Popular angolana.
Vum Vum gravou, em 1969, o clássico EP “Muzangola”, disco que permanece actual pela insuperável prestação técnica dos músicos, que inclui, além do tema “Muzangola” que dá título ao disco, as canções: “Ché, Ché kangrima”, “Monami”, “Porque viver sem você”, acompanhadas por uma selecção de prodigiosos músicos: Fernando Pinto (guitarra ritmo e solo), Luís Duarte (baixo), Jaime (órgão), e Tó Bandeira (bateria). Volvidos 44 anos, o EP “Muzangola” permanece actual, constituindo um marco assinalável na história do rock, da música popular e uma referência paradigmática da discografia angolana.
Primórdios
Filho de Manuel Baptista das Neves e de Juliana Fernandes, Manuel Rosário das Neves nasceu no dia 31 de Dezembro de 1943, no Dondo, Kwanza-Norte. Cantor, compositor, poeta e guitarrista, Vum Vum despertou para a música aos oito anos de idade, quando arrebatou um prémio no programa infantil “Cazumbi”, realizado pelo promotor cultural Luís Montez, no pátio do Sindicato dos Ferroviários. Em 1953, visita a província do Huambo, onde inicia uma peregrinação por várias sessões de programas infantis no Cinema Ruacaná, cidade onde estudou, em 1957, matriculado na Escola Industrial Sarmento Rodrigues.
De regresso a Luanda, em 1958, é simultaneamente artista dos programas de domingo, nos palcos do Clube Recreativo Botafogo, e Pim-Pam-Pum de Manuel Nunes, realizado na Liga Nacional Africana. Em parceria com Morgado Amaral e Cirineu Bastos, Vum Vum forma o trio de bailarinos de sapateado, na famosa Escola do Semba.
Artista filiado na Associação dos Naturais de Angola, ANANGOLA, Vum Vum tornou-se, em 1961, um dos principais intérpretes do grupo de cantares e danças “Njinga ya xikelela“, pertencente a esta associação. Em meados dos anos 70, era figura de cartaz nos palcos do Ngola Cine, apresentando-se no programa semanal “Dia do Trabalhador”, altura em que se junta aos “Electrónicos”, como principal vocalista, com Liló Saraiva (guitarra ritmo), Manuel Gomes (baixo), e Zan Andrade (guitarra solo).
Europa
Em 1968 parte para Lisboa, a convite do famoso empresário português Vasco Morgado, sendo a principal atracção nos teatros Monumental e Sá da Bandeira, no Porto, durante a temporada da revista, “Lisboa é sempre mulher”. Nesta época, divide o palco com Camilo de Oliveira, Nicolau Breyner, Florbela Queiroz e Octávio Matos. Em 1973, a convite do empresário Espanhol José Perez Lorenzo, compôs a banda sonora e deu voz ao filme “Eusébio, o Pantera Negra”. Em1977 e 1978 vive em Madrid e, durante três meses, é a atracção principal da “Balbosa Jazz”, a Catedral do Jazz Madrilleno.
Vum Vum chega à Alemanha no dia 1 de Agosto de 1988, e regressa novamente a Portugal no dia 29 de Agosto de 2012. Durante 24 anos fez várias apresentações destacando-se Viena de Áustria, Salzburgo e Estugarda, onde realiza um concerto por ocasião das comemorações da independência de Angola, no dia 11 de Novembro de 1988. Em Fevereiro de 1995 grava, pela Tropical Music, o CD “Muzangola”, disco que permaneceu durante três meses entre os dez do Top World Music da Alemanha.
Literatura
Vum Vum sempre aproximou a sua música da literatura e lançou, no dia 17 de Março de 2011, em Luanda, a sua primeira novela, “Simplesmente Joana”, figura do Marçal, bairro emblemático de Luanda. Na sequência, tem em preparação o seu novo livro, “Kota Luanda” e a realização do projecto musical “Salalé! Luanda misoso”, uma opereta sobre a memória colectiva angolana, na qual pretende retratar a cidade de Luanda a partir dos anos 50. Vum Vum Kamusasadi canta poemas dos poetas Rui Burity da Silva, Mário Costa Cê, José Manuel Fanha, Juliana Kiluanji e Mário António de Oliveira. Em 1976, gravou o LP “Salalé”, que inclui a canção “Menino Mirrado”, sobre um poema de Rui Burity da Silva, e percussão de Filipe Zau.
Homenagem
Regressa a Angola 43 anos depois de ter partido para Portugal, em Março de 1968, e é homenageado pelo cantor e compositor Sabú Guimarães e amigos, em acto realizado no Restaurante Buraco, situado na Floresta do Kinaxixi. Na ocasião, um trio composto por Carlitos Vieira Dias (viola), Rui César (Piano) e Hélio Braz (Percussão), acompanhou, além de Vum Vum, as vozes de Elias Dia Kimuezo, Cirineu Bastos, Dionísio Rocha, e Mário Gama.
Novo disco
Em relação ao novo CD “Ode aos meus Amores”, “Vum Vum fez o seguinte depoimento: “’Ode aos meus Amores’ são peças diversas... umas mais antigas que outras, mas sempre actuais. Há uma afinidade: são títulos inéditos que jamais foram cantados. É um projecto pensado e concebido para uma gravação de som acústico, desprovido de qualquer roupagem sofisticada, musicalmente falando, capaz de roubar a essência da simplicidade, natureza e objectivo do seu canto, música e poesia. Em resumo, dei às palavras o lugar de prima-dona, porque sou, acima de tudo, um cantor compositor, cantor de palavras. Emergência de aflições, anseios e verdades do quotidiano da minha observação para com a vida, da realidade do seu acontecer, em que sonho, que ainda é o leitmotiv, que acomoda o amanhecer do meu quotidiano. ‘Ode aos meus amores’ é um canto intimista, também de inconformismo, perante realidades ditas virtuais, onde o amor, música e poesia, abrem mão à esperança. Tudo isso, com apenas um único cúmplice: a Marikota, nome de adopção do meu violão, companheira inseparável das minhas confidências, sempre ao meu alcance, para veicular a musicalidade e sons, que dão força e vida às minhas palavras...”