Finalmente a minha resenha sobre o ORLEI. Oxalá tenham tempo e paciência para ler.
Ndapandula Tchalwa.
Sónia
Resenha sobre o festival ORLEI.
Amigos, estimado público, caros colaboradores e patrocinadores.
Após algum tempo de molho, para curar os músculos e fazer um recuo, aqui estou, fazendo uma resenha do que foi o ORLEI 2016. Desculpem-me a ausência nestes dias. A velhice me ensinou a fazer as coisas a seu tempo, e só agora me sinto a vontade para isso.
Com a vossa participação, foi realizada a sexta edição do ORLEI (O Rock Lalimwe Eteke Ifa), festival Internacional de rock em Angola, na Província do Huambo, onde nasceu.
Começou a ser preparado em Junho deste ano, com a elaboração do projecto, sua apresentação a várias entidades para pedido de patrocínios, contactos com sectores da administração pública para autorizações, concertação com as bandas e com o grupo de apoio no grupo privado do facebook, por telefone, e-mail, viagens de concertação com as bandas e parceiros, publicitação por via do facebook, de canais diversos de rádio em Luanda Lobito e Humbo, televisão ZAP, TPA.
Aos poucos foi se montando o cenário, a nossa espectativa crescia a cada dia, todos nos preparávamos.
Setembro. Não há volta possível.
10. Uma actividade solidária, característica dos rockers. Concerto na penitenciária do Cambiote. Pelo menos mil detidos assistiram a um concerto que era para duas horas e durou cinco. Vibraram, cantaram com os músicos e em palco, e foi uma satisfação geral. Resultado, a direcção da penitenciária pede que façamos mais. Na história do rock em Angola, foi a primeira de muitas vezes.
11 o Documentário Death Metal Angola foi apresentado na sala de cinema da biblioteca Provincial, para que quem não o viu ainda tivesse a oportunidade de o ver, e conhecer partes da história da Okutiuka, e do nascimento do ORLEI. Estiveram presentes Sra Directora Provincial do MINARS (Ministério da assistência e reinserção social), Sr Artur Neves, músico, director da TAAG no Huambo, empresários, artistas, promotores de eventos, músicos, Djs, amigos e família, bem como crianças e jovens da Okutiuka.
Seguiu-se uma sessão de perguntas e respostas sobre o documentário. O Sr Artur Neves falou da sua experiência de e com a guerra, enalteceu a acção da Okutiuka e encorajou a todos a serem solidários.
15 DWD, banda Moçambicana deixa Maputo em direcção ao Huambo. O Tucho está a espera deles. A adrenalina começa a subir. O Yuri Almeida e o Zé- Beato já estão no Huambo. O telefone não para, está sempre quente. De noite, é o Wilson Pipas que nos tranquiliza porque faz as honras recebendo muito bem os rapazes de Moçambique, até a hora de embarque, na quinta-feira para o Huambo. O palco e o som já estão no local do crime.
A hora de embarque é 20, do dia16, no parque da MACOM, no rocha pinto, para as bandas que vêm de Luanda. Não houve atrasos. Temos um doente. Um vocalista e guitarrista, com paludismo. Eu pedi para que viesse no domingo, de avião, pois assim repousaria. A viagem de autocarro é longa (14 horas), mas ele é mesmo rocker. Me disse, vou assim mesmo, vou me aguentar, pois se ficar aqui sozinho é que não fico bom mesmo. Um autocarro da MACOM só para as bandas de Luanda e Moçambique. DWD, Black Soul, Last Shout, Pop Show, Jack Nkanga, Silent Wishper, Kizua Gourgel, Gari Sinedima, Sentido Proibido. Apresentadores, Dj, assistentes de palco e técninco de som também. O Toke É Esse, Eddy British, Manel Kavalera, Tucho, Hector Gunnza e Yuri Almeida. Vem também a equipe da TV ZIMBOD. De noite ainda tenho um encontro para que nos resolvam o problema da iliminação pública e dos caixotes de lixo. Garantias de que sim, mas nada aconteceu.
16 Chegam as bandas. Se instalam nos hotéis Tchimina e Konjevi. Os recepcionistas têm o plano, é fácil a acomodação. Não tenho tempo para conversar com as bandas, sobretudo as novas no ORLEI (DWD, Jack Nkanga, Last Shout). Está-se a montar o palco. O Yuri está desde manhã a acompanhar a montagem. Sónia, o gerador. Os WC já estão no lugar rsrsrsrs.
O corre corre fica mais intenso. A comida para as bandas vem do acadêmico para a rua cinco de Outubro para almoço e jantar. Comandante da Polícia liga, venham buscar os anti-pânico. O pete vai com a sua carrinha alugada. A gráfica ainda a trabalhar nos passes de identificação, camisolas e outros, o Bona Ska e o Beato em cima do assunto... e mais isso e mais aquilo, é noite. Começam a chegar mais amigos. O cansaço se confunde com a adrenalina. Entre os rockers e público, só boas mensagens, o que dá alento. O gerador? Afinal está a vir do Bié? O custódio tem que trabalhar com luzes dos carros. Sentido proibido e Still rolling with the times vão fazer um JAM no Royal Saloom.
Outros vão assistir e se divertir. Uma boleia? Toma. Chegam os Beside, abraços. Chegam os kambas do Lobito, abraços. Chega o kassessa com os fogos de artifício, chegam os Dor fantasma. Não há reunião na Okutiuka? Hoje não. Alguns parceiros estão a falhar e nos fizeram correr mais do que estava previsto e tivemos que adiar a reunião.
Meia noite, nada de gerador. Vou dormir. Truz truz truz. Quem é? É o Cassessa. Veio depositar os fogos. Descarregamos. Vou dormir. Truz truz truz. Quem é? É o Fuzzi, o Pagia, o Ali, a Yara, o José e a Cristina. Vieram para a Okutiuka, com saudades da fogueira. Cantamos, fotografamos, acordamos o Bona Ska, rimos, fazemos novas músicas para o ORLEI, rockordamos. Percebem que preciso de dormir, duas da manhã, obrigada amigos, até logo. 4 da manhã, telefone, os LUNNA estão a chegar do Lubango. Qual é o hotel por favo, desculpa ligar a esta hora... 4:30 telefone, o Edienne está a chegar do Namibe. Qual é o hotel, como chego lá? Não conheço o Huambo... é bom de boca e chegou ao hotel.
17 Chegou o Eddy e o O Toke. Check sound marcado para as 10 horas. Falta a elevação da bateria, falta o T do palco, faltam os ecrãs de Led. Não temos gerador. Vem já vem já só veio as 14, horas marcada para o fim do check sound. Veio a elevação da bateria, o David Quinto assegurou, o tapete, nada do resto. Começa o check sound. O Yuri diz que temos pouco som, mais uma falha, Dj Atos Trancoso nos aluga 5000wts, vem, monta. A NOCEBO Cuca Huambo monta a área reservada com tendinhas e mesas, as mamãs vendedoras montam as suas caixas térmicas e grelhados, o Pedro Hospital a sua exposição de quadros. O Local está animado, o pessoas das bandas está todo lá também.
Eu vou e volto, levo e trago, atendo e ligo, a cidade está em alvoroço, muitas coisas fora do lugar, a não dar certo na última da hora, ligo pontos, me decepciono, me frustro, me zango, só o Yuri e o Beato sabem. Me dizem para ter calma. Os putos da Okutiuka, treinados para o protocolo, asseguram. Gelo para a CUCA, traz cuba leva cuba, serve aqui lava acolá... Para mim, não está a correr como esperava, não está a correr bem.
É noite, o local não tem iluminação pública, nenhuma. Só o palco tem, mas é suficiente, dá para o gasto. Começamos o show as 21. Muito atraso. Não há nenhum bar a vender comida ou bebida. Só as mamãs vendem, mas mesmo assim, ainda assim, o público está lá.
A voz dos apresentadores soa, os dançarinos da Okutiuka abrem o show com uma coreografia feita para a ocasião, ilustrando o rock.
Beside é a banda convidada a abrir desta vez, com o seu rock Balada, e o público começa a aumentar de número. Black Soul é a seguir e nos traz uma surpresa: um cover da música Kuito do Carlos lopes, cantada em Umbundu (ko Tchitali tchangueeee). Muito bem Black Soul, sempre a inovar, a crescer e a marcar Angola no rock. Até os fogos de artifício saíram bem nessa hora. Lindos fogos. Man Rafa, Cassessa, muito bem. Bom trabalho.
Zé Beato e os desempregados seguiram, com a sua característica onda, com músicas novas também, e fechando com o curtir meu banzelo.
DWD, a banda Moçambicana, nos entra com um cover de ACDC, e ficamos todos extasiados. Muito bommmm, e só foi bom até ao fim. Boa escolha para o ORLEI. Ainda inventaram o ORLEI ORLEI ORLEI ORLEI, ORLEI ORLEI, e o público cantou com eles.
Sentido proibido, com o seu carismático vocalista, mostrou que trabalho faz sucesso e animou ainda mais.
Silent Wishper, uma novidade no festival, surpreendeu pela positiva, com a garra que trouxe. Sejam bem-vindos. O público pedia mais, era madrugada, mas o primeiro dia ficou para a história.
Fechamos tudo, leva traz leva traz, a cantoria continuou em casa com a turma dos duros, levamos depois o Nelo Bethoven para o hotel, conversa vem e vai, seis da manhã para a cama.
18 Dodoi.
O Yuri está pronto bem cedo. E rijo esse rapaz. Domingo já é mais tranquilo. Estamos nas nuvens. Está bem bom. Kizua liga. Outra vez Sónia? Falhei com ele, mas ele me perdoa.
A cidade só fala do ORLEI, chovem mensagens e telefonemas de parabenização. Os rockers inundam as redes de fotografias. Estamos a ir bem.
14 horas começa o check sound para as bandas de domingo. O local do show tem um vai e vem constante de gente. Muitos encontros e reencontros, gente bonita, toda sorridente. Os olhares são de orgulho e alegria. O Huambo parabeniza a produção e gosta do festival.
Yuri Incansável. Uma sandes para o Yuri e o Beato. Não tiveram tempo para almoçar. Mais Fahitas picantes.
Já temos mais luz. A NOCEBO fez o seu trabalho. Já temos Bares, A NOCEBO Assegurou. Vieram os PINs como brindes do festival. Salvador MC está a assegurar a transportação de montes de pessoas e bens logísticos.
Mark Davis e Leving the Dream fazem um warm up. São bandas ainda em surgimento que tiveram esta oportunidade.
Paralelo State, a banda da casa abre. O vocalista tem o cabelo vermelho. Está uma banda muito coesa. Melhoraram bastante. Bom de ver. Fazem um cover de Café Negro. O Huambo vibra por ter uma boa banda. Estamos orgulhosos, bem representados.
LUNNA, Lubango, Alguém notou que o Kássio (vocalista) estava doente também? Só quem sabia e o conhece bem notou. Deram um showzasso.
Last Shout: Chapéu! A banda é um bum. Teresa (vocalista) impressionou a toda a gente com os seus guturais e performance metal. Cristina (baterista) tão meiguinha e tão fera. A banda fez vibrar. O público moshou de tudo. Assustou a polícia e a quem não sabia o é mosh. De repente o mosh virou moda. A banda, única em Angola de metal com membros femininos ficou nas cabeças de toda gente. Ganhou fãs de todas as estirpes. Um sucesso.
Gari Sinedima, com temas bem ao jeito do sul, fez pular e dançar. Dançou também, muito. Alegrou, e os fogos de artifício também a ele fizeram reverência. O Drone do Marcos Ferraz é testemunha disso, pois voou altíssimo para registar todos estes momentos.
Dor fantasma, os Benguelenses que arrasam, com o seu trash metal, fizeram o público acreditar que nada é impossível. Aprumadíssimos, indumentárias a rigor, coesos como nunca, com um elemento novo na banda (o que só melhorou), teatralização do mandingo (trash cantado em Umbundu), escravo bem representado pelo atrevido e divertido Hector Gunza, tudo o de bom. Uma banda que mostra o máximo de profissionalização em tudo.
Pop Show, chegou lindo, aprumadíssimo com sua banda. Fizeram uma homenagem ao Prince, cantou Kazuza, purple rain, e trouxe a chuva rsrsrsrs. Há que saber ouvir os mais velhos e a natureza. Um Sr, um Sr. Chefe, me disse: quero o cd deste mais velho. Teve o que queria.
A chuva afugentou a maior parte do público, desligamos o som. A chuva parou. Foi cair lá para os lados do S. Pedro. Ligamos o som.
Jack Nkanga subiu ao palco. A Luz e o Jean Marie me tiraram para dançar. Que voz, que linda poesia, que música linda, que alma bonita! Quem não viu perdeu e vai ficar na ânsia. O Toni (menino da Okutiuka) disse que vai fazer um corte igual ao dele e não descansou até ter o disco na mão. Pode-se dizer que é hoje um kudurista redimido.
Kizua Gourgel, no Muzangola disse que ia fazer rir, pular e chorar. Foi o que fez. Sou uma dos que chorou. Fez-me uma homenagem com uma linda música dos Radiohead. CREEP. Nunca tinha ouvido esta música da maneira que ouvi, e o Kizua cantou-a e tocou-a tão bem, tão lindamente que ainda me emociono ao me lembrar. Sempre fui fã e admiradora do Kizua. Não imaginam como me senti, com ele cantando com tanto carinho uma música tão bonita para mim. Cantei com ele mesmo sem falar bem inglês, até perder o resto de vos que me restava. Só por isso eu faço mais mil festivais e mais mil coisas boas na vida. Nunca me vou esquecer. Obrigada Kizua.
Cantou Tchiungue, o povo saltou, pulou, cantou, e admirou mais uma vez um grande músico da nossa Angola.
O DJ, Manel Kavalera esteve muito bem em todos os intervalos entre as bandas e no fim. Fez-nos viajar pelo rock, saltar e moshar bué.
Fechamos a noite, nem queríamos acreditar que tinha acabado. A Polícia veio parabenizar-nos, e acertar detalhes para a desmontagem da cena no dia seguinte. Entre nós, abraçamo-nos muito, estávamos todos felizes. Todo o esforço valeu demais a pena. Alguns de nós, viemos para a fogueira que nos aguardava na Okutiuka. O Wilson Pipas, nossa mascote, sempre atento e presente, não deixou escapar nenhum momento, e tratou de nós como gente grande.
A fogueira foi até as cinco da manhã, com muita história e música, hora para muitos de ir para o aeroporto. Vamos, pega mala aqui, acolá, pega gente aqui, acolá, as seis estamos no aeroporto.
As 11 o autocarro começa a recolha do pessoal que vai por terra. Depois temos que arrumar e entregar as coisas alheias emprestadas para o cenário. Ainda uma reunião e avaliação na NOCEBO.
Ficaram os LUNNA, o Beato, O Bona Ska, o Saddam de Oliveira, a Cláudia, toda a tarde com JAM na Okutiuka, mas foram-se embora de noite, menos o Beato.
Acabou mesmo.
Um vazio não ficou. Este festival tem alma. Disse-me o Jack Nkanga, que veio cá pela primeira vez. Tem sim. E é no espírito dessa alma que vivemos tudo isto e tudo o mais que não está aqui dito ou escrito. O festival cresce, porque tem nele gente que gosta de rock, que é artista, que tem fé, que não cruza os braços, que quer o bem de todos, e a sexta edição provou que estamos no bom caminho, que aos poucos e todos os dias realizamos o nosso sonho.
Foi um sucesso na opinião de todos os que estiveram presentes. Quem diz que não também tem a sua opinião mas eu ainda não ouvi.
Peço desculpas a todos se alguma coisa não correu bem, e espero melhorar no próximo ano.
A todos, o meu muito obrigado.
Agradeço ainda aos nossos amigos e patrocinadores: NOCEBO CUCA Huambo, Grupo Miguéns e Augusto, Quitronics events, Tipografia Corimba, Onda Azul, Gráfica 3K, MACOM, Royal Saloom, restaurante novo Império, restaurante O'Pintos, Chetete prestação de serviços, aos rapazes da Okutiuka, a rádio Huambo, TV Zimbo, LAC, a minha família, sobretudo à Cinthya, Joelson e Salvador, Wilson Pipas, Manel Kavalera, O Toke É Esse, Eddy British, Zé Beato, Yuri Almeida, Pagia, Yara, Ticha, Tucho, Hector, Laura Macedo, Vanilson Gerónimo, Bona Ska, Wilker, José Patrocínio, Luz Dari, Jean Marie, António Rafael, Marcos Ferraz, Dino Simões...
Se calhar me esqueci de pessoas cruciais. Agradeço a todos de qualquer maneira, do fundo do coração.
Faço ainda uma menção especial à policia nacional, que foi o único órgão do Governo que se implicou a fundo e deu toda a sua colaboração, inclusive emprestando material de uso importante. Foi a única instituição estatal que fez o seu trabalho como deve ser.
A todas as bandas, o meu grande apreço, e muito obrigada pelo show que deram, por animar mais uma festa de aniversário da cidade do Huambo. DWD, e Moçambique, um grande hala povo irmão, e para o vosso/nosso movimento, muita força.
Estamos juntos, e já preparando a próxima edição, todas as ideias e colaboração são bem vindas.
Twapandula,
O Rock Lalimwe Eteke Ifa.
Sónia Ferreira
Amigos, estimado público, caros colaboradores e patrocinadores.
Após algum tempo de molho, para curar os músculos e fazer um recuo, aqui estou, fazendo uma resenha do que foi o ORLEI 2016. Desculpem-me a ausência nestes dias. A velhice me ensinou a fazer as coisas a seu tempo, e só agora me sinto a vontade para isso.
Com a vossa participação, foi realizada a sexta edição do ORLEI (O Rock Lalimwe Eteke Ifa), festival Internacional de rock em Angola, na Província do Huambo, onde nasceu.
Começou a ser preparado em Junho deste ano, com a elaboração do projecto, sua apresentação a várias entidades para pedido de patrocínios, contactos com sectores da administração pública para autorizações, concertação com as bandas e com o grupo de apoio no grupo privado do facebook, por telefone, e-mail, viagens de concertação com as bandas e parceiros, publicitação por via do facebook, de canais diversos de rádio em Luanda Lobito e Humbo, televisão ZAP, TPA.
Aos poucos foi se montando o cenário, a nossa espectativa crescia a cada dia, todos nos preparávamos.
Setembro. Não há volta possível.
10. Uma actividade solidária, característica dos rockers. Concerto na penitenciária do Cambiote. Pelo menos mil detidos assistiram a um concerto que era para duas horas e durou cinco. Vibraram, cantaram com os músicos e em palco, e foi uma satisfação geral. Resultado, a direcção da penitenciária pede que façamos mais. Na história do rock em Angola, foi a primeira de muitas vezes.
11 o Documentário Death Metal Angola foi apresentado na sala de cinema da biblioteca Provincial, para que quem não o viu ainda tivesse a oportunidade de o ver, e conhecer partes da história da Okutiuka, e do nascimento do ORLEI. Estiveram presentes Sra Directora Provincial do MINARS (Ministério da assistência e reinserção social), Sr Artur Neves, músico, director da TAAG no Huambo, empresários, artistas, promotores de eventos, músicos, Djs, amigos e família, bem como crianças e jovens da Okutiuka.
Seguiu-se uma sessão de perguntas e respostas sobre o documentário. O Sr Artur Neves falou da sua experiência de e com a guerra, enalteceu a acção da Okutiuka e encorajou a todos a serem solidários.
15 DWD, banda Moçambicana deixa Maputo em direcção ao Huambo. O Tucho está a espera deles. A adrenalina começa a subir. O Yuri Almeida e o Zé- Beato já estão no Huambo. O telefone não para, está sempre quente. De noite, é o Wilson Pipas que nos tranquiliza porque faz as honras recebendo muito bem os rapazes de Moçambique, até a hora de embarque, na quinta-feira para o Huambo. O palco e o som já estão no local do crime.
A hora de embarque é 20, do dia16, no parque da MACOM, no rocha pinto, para as bandas que vêm de Luanda. Não houve atrasos. Temos um doente. Um vocalista e guitarrista, com paludismo. Eu pedi para que viesse no domingo, de avião, pois assim repousaria. A viagem de autocarro é longa (14 horas), mas ele é mesmo rocker. Me disse, vou assim mesmo, vou me aguentar, pois se ficar aqui sozinho é que não fico bom mesmo. Um autocarro da MACOM só para as bandas de Luanda e Moçambique. DWD, Black Soul, Last Shout, Pop Show, Jack Nkanga, Silent Wishper, Kizua Gourgel, Gari Sinedima, Sentido Proibido. Apresentadores, Dj, assistentes de palco e técninco de som também. O Toke É Esse, Eddy British, Manel Kavalera, Tucho, Hector Gunnza e Yuri Almeida. Vem também a equipe da TV ZIMBOD. De noite ainda tenho um encontro para que nos resolvam o problema da iliminação pública e dos caixotes de lixo. Garantias de que sim, mas nada aconteceu.
16 Chegam as bandas. Se instalam nos hotéis Tchimina e Konjevi. Os recepcionistas têm o plano, é fácil a acomodação. Não tenho tempo para conversar com as bandas, sobretudo as novas no ORLEI (DWD, Jack Nkanga, Last Shout). Está-se a montar o palco. O Yuri está desde manhã a acompanhar a montagem. Sónia, o gerador. Os WC já estão no lugar rsrsrsrs.
O corre corre fica mais intenso. A comida para as bandas vem do acadêmico para a rua cinco de Outubro para almoço e jantar. Comandante da Polícia liga, venham buscar os anti-pânico. O pete vai com a sua carrinha alugada. A gráfica ainda a trabalhar nos passes de identificação, camisolas e outros, o Bona Ska e o Beato em cima do assunto... e mais isso e mais aquilo, é noite. Começam a chegar mais amigos. O cansaço se confunde com a adrenalina. Entre os rockers e público, só boas mensagens, o que dá alento. O gerador? Afinal está a vir do Bié? O custódio tem que trabalhar com luzes dos carros. Sentido proibido e Still rolling with the times vão fazer um JAM no Royal Saloom.
Outros vão assistir e se divertir. Uma boleia? Toma. Chegam os Beside, abraços. Chegam os kambas do Lobito, abraços. Chega o kassessa com os fogos de artifício, chegam os Dor fantasma. Não há reunião na Okutiuka? Hoje não. Alguns parceiros estão a falhar e nos fizeram correr mais do que estava previsto e tivemos que adiar a reunião.
Meia noite, nada de gerador. Vou dormir. Truz truz truz. Quem é? É o Cassessa. Veio depositar os fogos. Descarregamos. Vou dormir. Truz truz truz. Quem é? É o Fuzzi, o Pagia, o Ali, a Yara, o José e a Cristina. Vieram para a Okutiuka, com saudades da fogueira. Cantamos, fotografamos, acordamos o Bona Ska, rimos, fazemos novas músicas para o ORLEI, rockordamos. Percebem que preciso de dormir, duas da manhã, obrigada amigos, até logo. 4 da manhã, telefone, os LUNNA estão a chegar do Lubango. Qual é o hotel por favo, desculpa ligar a esta hora... 4:30 telefone, o Edienne está a chegar do Namibe. Qual é o hotel, como chego lá? Não conheço o Huambo... é bom de boca e chegou ao hotel.
17 Chegou o Eddy e o O Toke. Check sound marcado para as 10 horas. Falta a elevação da bateria, falta o T do palco, faltam os ecrãs de Led. Não temos gerador. Vem já vem já só veio as 14, horas marcada para o fim do check sound. Veio a elevação da bateria, o David Quinto assegurou, o tapete, nada do resto. Começa o check sound. O Yuri diz que temos pouco som, mais uma falha, Dj Atos Trancoso nos aluga 5000wts, vem, monta. A NOCEBO Cuca Huambo monta a área reservada com tendinhas e mesas, as mamãs vendedoras montam as suas caixas térmicas e grelhados, o Pedro Hospital a sua exposição de quadros. O Local está animado, o pessoas das bandas está todo lá também.
Eu vou e volto, levo e trago, atendo e ligo, a cidade está em alvoroço, muitas coisas fora do lugar, a não dar certo na última da hora, ligo pontos, me decepciono, me frustro, me zango, só o Yuri e o Beato sabem. Me dizem para ter calma. Os putos da Okutiuka, treinados para o protocolo, asseguram. Gelo para a CUCA, traz cuba leva cuba, serve aqui lava acolá... Para mim, não está a correr como esperava, não está a correr bem.
É noite, o local não tem iluminação pública, nenhuma. Só o palco tem, mas é suficiente, dá para o gasto. Começamos o show as 21. Muito atraso. Não há nenhum bar a vender comida ou bebida. Só as mamãs vendem, mas mesmo assim, ainda assim, o público está lá.
A voz dos apresentadores soa, os dançarinos da Okutiuka abrem o show com uma coreografia feita para a ocasião, ilustrando o rock.
Beside é a banda convidada a abrir desta vez, com o seu rock Balada, e o público começa a aumentar de número. Black Soul é a seguir e nos traz uma surpresa: um cover da música Kuito do Carlos lopes, cantada em Umbundu (ko Tchitali tchangueeee). Muito bem Black Soul, sempre a inovar, a crescer e a marcar Angola no rock. Até os fogos de artifício saíram bem nessa hora. Lindos fogos. Man Rafa, Cassessa, muito bem. Bom trabalho.
Zé Beato e os desempregados seguiram, com a sua característica onda, com músicas novas também, e fechando com o curtir meu banzelo.
DWD, a banda Moçambicana, nos entra com um cover de ACDC, e ficamos todos extasiados. Muito bommmm, e só foi bom até ao fim. Boa escolha para o ORLEI. Ainda inventaram o ORLEI ORLEI ORLEI ORLEI, ORLEI ORLEI, e o público cantou com eles.
Sentido proibido, com o seu carismático vocalista, mostrou que trabalho faz sucesso e animou ainda mais.
Silent Wishper, uma novidade no festival, surpreendeu pela positiva, com a garra que trouxe. Sejam bem-vindos. O público pedia mais, era madrugada, mas o primeiro dia ficou para a história.
Fechamos tudo, leva traz leva traz, a cantoria continuou em casa com a turma dos duros, levamos depois o Nelo Bethoven para o hotel, conversa vem e vai, seis da manhã para a cama.
18 Dodoi.
O Yuri está pronto bem cedo. E rijo esse rapaz. Domingo já é mais tranquilo. Estamos nas nuvens. Está bem bom. Kizua liga. Outra vez Sónia? Falhei com ele, mas ele me perdoa.
A cidade só fala do ORLEI, chovem mensagens e telefonemas de parabenização. Os rockers inundam as redes de fotografias. Estamos a ir bem.
14 horas começa o check sound para as bandas de domingo. O local do show tem um vai e vem constante de gente. Muitos encontros e reencontros, gente bonita, toda sorridente. Os olhares são de orgulho e alegria. O Huambo parabeniza a produção e gosta do festival.
Yuri Incansável. Uma sandes para o Yuri e o Beato. Não tiveram tempo para almoçar. Mais Fahitas picantes.
Já temos mais luz. A NOCEBO fez o seu trabalho. Já temos Bares, A NOCEBO Assegurou. Vieram os PINs como brindes do festival. Salvador MC está a assegurar a transportação de montes de pessoas e bens logísticos.
Mark Davis e Leving the Dream fazem um warm up. São bandas ainda em surgimento que tiveram esta oportunidade.
Paralelo State, a banda da casa abre. O vocalista tem o cabelo vermelho. Está uma banda muito coesa. Melhoraram bastante. Bom de ver. Fazem um cover de Café Negro. O Huambo vibra por ter uma boa banda. Estamos orgulhosos, bem representados.
LUNNA, Lubango, Alguém notou que o Kássio (vocalista) estava doente também? Só quem sabia e o conhece bem notou. Deram um showzasso.
Last Shout: Chapéu! A banda é um bum. Teresa (vocalista) impressionou a toda a gente com os seus guturais e performance metal. Cristina (baterista) tão meiguinha e tão fera. A banda fez vibrar. O público moshou de tudo. Assustou a polícia e a quem não sabia o é mosh. De repente o mosh virou moda. A banda, única em Angola de metal com membros femininos ficou nas cabeças de toda gente. Ganhou fãs de todas as estirpes. Um sucesso.
Gari Sinedima, com temas bem ao jeito do sul, fez pular e dançar. Dançou também, muito. Alegrou, e os fogos de artifício também a ele fizeram reverência. O Drone do Marcos Ferraz é testemunha disso, pois voou altíssimo para registar todos estes momentos.
Dor fantasma, os Benguelenses que arrasam, com o seu trash metal, fizeram o público acreditar que nada é impossível. Aprumadíssimos, indumentárias a rigor, coesos como nunca, com um elemento novo na banda (o que só melhorou), teatralização do mandingo (trash cantado em Umbundu), escravo bem representado pelo atrevido e divertido Hector Gunza, tudo o de bom. Uma banda que mostra o máximo de profissionalização em tudo.
Pop Show, chegou lindo, aprumadíssimo com sua banda. Fizeram uma homenagem ao Prince, cantou Kazuza, purple rain, e trouxe a chuva rsrsrsrs. Há que saber ouvir os mais velhos e a natureza. Um Sr, um Sr. Chefe, me disse: quero o cd deste mais velho. Teve o que queria.
A chuva afugentou a maior parte do público, desligamos o som. A chuva parou. Foi cair lá para os lados do S. Pedro. Ligamos o som.
Jack Nkanga subiu ao palco. A Luz e o Jean Marie me tiraram para dançar. Que voz, que linda poesia, que música linda, que alma bonita! Quem não viu perdeu e vai ficar na ânsia. O Toni (menino da Okutiuka) disse que vai fazer um corte igual ao dele e não descansou até ter o disco na mão. Pode-se dizer que é hoje um kudurista redimido.
Kizua Gourgel, no Muzangola disse que ia fazer rir, pular e chorar. Foi o que fez. Sou uma dos que chorou. Fez-me uma homenagem com uma linda música dos Radiohead. CREEP. Nunca tinha ouvido esta música da maneira que ouvi, e o Kizua cantou-a e tocou-a tão bem, tão lindamente que ainda me emociono ao me lembrar. Sempre fui fã e admiradora do Kizua. Não imaginam como me senti, com ele cantando com tanto carinho uma música tão bonita para mim. Cantei com ele mesmo sem falar bem inglês, até perder o resto de vos que me restava. Só por isso eu faço mais mil festivais e mais mil coisas boas na vida. Nunca me vou esquecer. Obrigada Kizua.
Cantou Tchiungue, o povo saltou, pulou, cantou, e admirou mais uma vez um grande músico da nossa Angola.
O DJ, Manel Kavalera esteve muito bem em todos os intervalos entre as bandas e no fim. Fez-nos viajar pelo rock, saltar e moshar bué.
Fechamos a noite, nem queríamos acreditar que tinha acabado. A Polícia veio parabenizar-nos, e acertar detalhes para a desmontagem da cena no dia seguinte. Entre nós, abraçamo-nos muito, estávamos todos felizes. Todo o esforço valeu demais a pena. Alguns de nós, viemos para a fogueira que nos aguardava na Okutiuka. O Wilson Pipas, nossa mascote, sempre atento e presente, não deixou escapar nenhum momento, e tratou de nós como gente grande.
A fogueira foi até as cinco da manhã, com muita história e música, hora para muitos de ir para o aeroporto. Vamos, pega mala aqui, acolá, pega gente aqui, acolá, as seis estamos no aeroporto.
As 11 o autocarro começa a recolha do pessoal que vai por terra. Depois temos que arrumar e entregar as coisas alheias emprestadas para o cenário. Ainda uma reunião e avaliação na NOCEBO.
Ficaram os LUNNA, o Beato, O Bona Ska, o Saddam de Oliveira, a Cláudia, toda a tarde com JAM na Okutiuka, mas foram-se embora de noite, menos o Beato.
Acabou mesmo.
Um vazio não ficou. Este festival tem alma. Disse-me o Jack Nkanga, que veio cá pela primeira vez. Tem sim. E é no espírito dessa alma que vivemos tudo isto e tudo o mais que não está aqui dito ou escrito. O festival cresce, porque tem nele gente que gosta de rock, que é artista, que tem fé, que não cruza os braços, que quer o bem de todos, e a sexta edição provou que estamos no bom caminho, que aos poucos e todos os dias realizamos o nosso sonho.
Foi um sucesso na opinião de todos os que estiveram presentes. Quem diz que não também tem a sua opinião mas eu ainda não ouvi.
Peço desculpas a todos se alguma coisa não correu bem, e espero melhorar no próximo ano.
A todos, o meu muito obrigado.
Agradeço ainda aos nossos amigos e patrocinadores: NOCEBO CUCA Huambo, Grupo Miguéns e Augusto, Quitronics events, Tipografia Corimba, Onda Azul, Gráfica 3K, MACOM, Royal Saloom, restaurante novo Império, restaurante O'Pintos, Chetete prestação de serviços, aos rapazes da Okutiuka, a rádio Huambo, TV Zimbo, LAC, a minha família, sobretudo à Cinthya, Joelson e Salvador, Wilson Pipas, Manel Kavalera, O Toke É Esse, Eddy British, Zé Beato, Yuri Almeida, Pagia, Yara, Ticha, Tucho, Hector, Laura Macedo, Vanilson Gerónimo, Bona Ska, Wilker, José Patrocínio, Luz Dari, Jean Marie, António Rafael, Marcos Ferraz, Dino Simões...
Se calhar me esqueci de pessoas cruciais. Agradeço a todos de qualquer maneira, do fundo do coração.
Faço ainda uma menção especial à policia nacional, que foi o único órgão do Governo que se implicou a fundo e deu toda a sua colaboração, inclusive emprestando material de uso importante. Foi a única instituição estatal que fez o seu trabalho como deve ser.
A todas as bandas, o meu grande apreço, e muito obrigada pelo show que deram, por animar mais uma festa de aniversário da cidade do Huambo. DWD, e Moçambique, um grande hala povo irmão, e para o vosso/nosso movimento, muita força.
Estamos juntos, e já preparando a próxima edição, todas as ideias e colaboração são bem vindas.
Twapandula,
O Rock Lalimwe Eteke Ifa.
Sónia Ferreira