quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Rock Angolano com Vum Vum


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Rock angolano com Vum Vum

Jomo Fortunato|
6 de Maio, 2013
Fotografia: DR
Figura incontornável da história do rock angolano, Vum Vum fez parte do Clube Recreativo Botafogo e da geração dos primórdios da renovação estética da Música Popular Angolana, militando nos Conjuntos de Música Moderna, num processo em que defendeu os valores mais autênticos da tradição do cancioneiro luandense.
Embora seja um ilustre desconhecido, sobretudo pela geração mais jovem de cantores e compositores angolanos, Vum Vum é um nome fundamental na história da Música Popular Angolana, e foi o primeiro cantor negro, em situação de colonizado, a permanecer seis meses em cartaz, na famosa e prestigiada Boite Tamar, na Ilha de Luanda, em 1966. O seu enorme sucesso surpreendeu a imprensa da época, e o seu rosto foi chamada de capa na revista “Notícia”, de João Charulla de Azevedo, facto considerado insólito naquela época.
A grandiosidade da sua voz, um dos seus principais instrumentos, sempre esteve ao serviço de uma arte que marcou de forma indelével a história dos Conjuntos de Música Moderna, e, consequentemente, os primórdios da renovação estética da Música Popular angolana.
Vum Vum gravou, em 1969, o clássico EP “Muzangola”, disco que permanece actual pela insuperável prestação técnica dos músicos, que inclui, além do tema “Muzangola” que dá título ao disco, as canções: “Ché, Ché kangrima”, “Monami”, “Porque viver sem você”, acompanhadas por uma selecção de prodigiosos músicos: Fernando Pinto (guitarra ritmo e solo), Luís Duarte (baixo), Jaime (órgão), e Tó Bandeira (bateria). Volvidos 44 anos, o EP “Muzangola” permanece actual, constituindo um marco assinalável na história do rock, da música popular e uma referência paradigmática da discografia angolana.

Primórdios

Filho de Manuel Baptista das Neves e de Juliana Fernandes, Manuel Rosário das Neves nasceu no dia 31 de Dezembro de 1943, no Dondo, Kwanza-Norte. Cantor, compositor, poeta e guitarrista, Vum Vum despertou para a música aos oito anos de idade, quando arrebatou um prémio no programa infantil “Cazumbi”, realizado pelo promotor cultural Luís Montez, no pátio do Sindicato dos Ferroviários. Em 1953, visita a província do Huambo, onde inicia uma peregrinação por várias sessões de programas infantis no Cinema Ruacaná, cidade onde estudou, em 1957, matriculado na Escola Industrial Sarmento Rodrigues.
De regresso a Luanda, em 1958, é simultaneamente artista dos programas de domingo, nos palcos do Clube Recreativo Botafogo, e Pim-Pam-Pum de Manuel Nunes, realizado na Liga Nacional Africana. Em parceria com Morgado Amaral e Cirineu Bastos, Vum Vum forma o trio de bailarinos de sapateado, na famosa Escola do Semba.
Artista filiado na Associação dos Naturais de Angola, ANANGOLA, Vum Vum tornou-se, em 1961, um dos principais intérpretes do grupo de cantares e danças “Njinga ya xikelela“, pertencente a esta associação. Em meados dos anos 70, era figura de cartaz nos palcos do Ngola Cine, apresentando-se no programa semanal “Dia do Trabalhador”, altura em que se junta aos “Electrónicos”, como principal vocalista, com Liló Saraiva (guitarra ritmo), Manuel Gomes (baixo), e Zan Andrade (guitarra solo).

Europa

Em 1968 parte para Lisboa, a convite do famoso empresário português Vasco Morgado, sendo a principal atracção nos teatros Monumental e Sá da Bandeira, no Porto, durante a temporada da revista, “Lisboa é sempre mulher”. Nesta época, divide o palco com Camilo de Oliveira, Nicolau Breyner, Florbela Queiroz e Octávio Matos. Em 1973, a convite do empresário Espanhol José Perez Lorenzo, compôs a banda sonora e deu voz ao filme “Eusébio, o Pantera Negra”. Em1977 e 1978 vive em Madrid e, durante três meses, é a atracção principal da “Balbosa Jazz”, a Catedral do Jazz Madrilleno.
Vum Vum chega à Alemanha no dia 1 de Agosto de 1988, e regressa novamente a Portugal no dia 29 de Agosto de 2012. Durante 24 anos fez várias apresentações destacando-se Viena de Áustria, Salzburgo e Estugarda, onde realiza um concerto por ocasião das comemorações da independência de Angola, no dia 11 de Novembro de 1988. Em Fevereiro de 1995 grava, pela Tropical Music, o CD “Muzangola”, disco que permaneceu durante três meses entre os dez do Top World Music da Alemanha.

Literatura

Vum Vum sempre aproximou a sua música da literatura e lançou, no dia 17 de Março de 2011, em Luanda, a sua primeira novela, “Simplesmente Joana”, figura do Marçal, bairro emblemático de Luanda. Na sequência, tem em preparação o seu novo livro, “Kota Luanda” e a realização do projecto musical “Salalé! Luanda misoso”, uma opereta sobre a memória colectiva angolana, na qual pretende retratar a cidade de Luanda a partir dos anos 50. Vum Vum Kamusasadi canta poemas dos poetas Rui Burity da Silva, Mário Costa Cê, José Manuel Fanha, Juliana Kiluanji e Mário António de Oliveira. Em 1976, gravou o LP “Salalé”, que inclui a canção “Menino Mirrado”, sobre um poema de Rui Burity da Silva, e percussão de Filipe Zau.

Homenagem

Regressa a Angola 43 anos depois de ter partido para Portugal, em Março de 1968, e é homenageado pelo cantor e compositor Sabú Guimarães e amigos, em acto realizado no Restaurante Buraco, situado na Floresta do Kinaxixi. Na ocasião, um trio composto por Carlitos Vieira Dias (viola), Rui César (Piano) e Hélio Braz (Percussão), acompanhou, além de Vum Vum, as vozes de Elias Dia Kimuezo, Cirineu Bastos, Dionísio Rocha, e Mário Gama.

Novo disco

Em relação ao novo CD “Ode aos meus Amores”, “Vum Vum fez o seguinte depoimento: “’Ode aos meus Amores’ são peças diversas... umas mais antigas que outras, mas sempre actuais. Há uma afinidade: são títulos inéditos que jamais foram cantados. É um projecto pensado e concebido para uma gravação de som acústico, desprovido de qualquer roupagem sofisticada, musicalmente falando, capaz de roubar a essência da simplicidade, natureza e objectivo do seu canto, música e poesia. Em resumo, dei às palavras o lugar de prima-dona, porque sou, acima de tudo, um cantor compositor, cantor de palavras. Emergência de aflições, anseios e verdades do quotidiano da minha observação para com a vida, da realidade do seu acontecer, em que sonho, que ainda é o leitmotiv, que acomoda o amanhecer do meu quotidiano. ‘Ode aos meus amores’ é um canto intimista, também de inconformismo, perante realidades ditas virtuais, onde o amor, música e poesia, abrem mão à esperança. Tudo isso, com apenas um único cúmplice: a Marikota, nome de adopção do meu violão, companheira inseparável das minhas confidências, sempre ao meu alcance, para veicular a musicalidade e sons, que dão força e vida às minhas palavras...”

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